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Guimarães Rosa: conheça a vida e obras do poeta Guimarães Rosa: conheça a vida e obras do poeta

Guimarães Rosa: conheça a vida e obras do poeta

O maior escritor brasileiro do século XX tem nome: Guimarães Rosa. O mineiro nascido em Cordisburgo chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel e deixou como legado, além de obras primas, vocábulos, expressões, ditados populares e alegorias.

Para saber mais é só continuar lendo!

Quem foi Guimarães Rosa?

João Guimarães Rosa foi um poeta, diplomata, novelista, romancista, contista e médico brasileiro, nascido em 27 de junho de 1908 em Cordisburgo, Minas Gerais. Ainda criança, Guimarães Rosa começou a estudar línguas, afirmando mais tarde:

“Eu falo: português, alemão, francês, inglês, espanhol, italiano, esperanto, um pouco de russo; leio: sueco, holandês, latim e grego (mas com o dicionário agarrado); entendo alguns dialetos alemães; estudei a gramática: do húngaro, do árabe, do sânscrito, do lituano, do polonês, do tupi, do hebraico, do japonês, do checo, do finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E acho que estudar o espírito e o mecanismo de outras línguas ajuda muito à compreensão mais profunda do idioma nacional. Principalmente, porém, estudando-se por divertimento, gosto e distração.”

Guimarães Rosa se formou em Medicina em Belo Horizonte e começou a exercer sua profissão em Itaguara, após se casar com Lígia Cabral Pena e ter duas filhas. Foi em Itaguara que o autor começou a ter contato com os elementos do sertão, que seriam essenciais para sua carreira literária. Também foi médico voluntário da Força Pública durante a Revolução Constitucionalista, em 1932.

Aprovado no concurso do Itamaraty, João Guimarães Rosa também dedicou-se alguns anos à carreira diplomática e serviu na Alemanha, Colômbia e Paris. Na Alemanha, conheceu sua segunda esposa, Aracy de Carvalho, funcionária do Itamaraty que auxiliou judeus a fugirem do Brasil no contexto da Segunda Guerra Mundial. Assim como outros brasileiros que viviam na Alemanha, Guimarães Rosa foi preso em 1942, quando o Brasil rompeu aliança com a Alemanha, mas foi solto no mesmo ano.

Guimarães Rosa faleceu em 1967, com apenas 59 anos, vítima de um infarto, três dias após assumir a cadeira na Academia Brasileira de Letras, cargo que recebeu em 1963.

Durante a Faculdade de Medicina, o autor começou a publicar seus primeiros contos, na revista “O Cruzeiro”. Em 1936, Guimarães Rosa conquistou o primeiro lugar no Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras, mas não chegou a publicar a obra. Durante sua carreira diplomática, o autor começou a escrever com mais assiduidade e, em 1937, começou a escrever seu primeiro livro publicado, “Sagarana”.

Em 1952, o autor decidiu viajar pelo sertão mineiro em busca de material para suas obras, levando uma caderneta pendurada no pescoço onde anotava tudo que via e ouvia . O resultado dessas cadernetas foi reunido em dois diários que hoje estão disponíveis no Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.

As anotações também foram utilizadas como elementos de diversas outras obras, como Grande Sertão Veredas (1956) e Manuelzão e Miguilim (1964).

Livros de Guimarães Rosa

Guimarães Rosa escreveu novelas, contos, romances, e deu ênfase, em seus escritos, nos temas nacionais, marcados pelo regionalismo e ambientados no sertão brasileiro. Sobre suas escritas, o autor explica:

“Quando escrevo, repito o que já vivi antes. E para estas duas vidas, um léxico só não é suficiente. Em outras palavras, gostaria de ser um crocodilo vivendo no rio São Francisco. Gostaria de ser um crocodilo porque amo os grandes rios, pois são profundos como a alma de um homem. Na superfície são muito vivazes e claros, mas nas profundezas são tranqüilos e escuros como o sofrimento dos homens.”

Confira a lista de suas obras publicadas:

Obras publicadas em vida

  • Sagarana (1946);
  • Corpo de Baile (1956);
  • Grandes Sertões: Veredas (1956);
  • Primeiras Estórias (1962);
  • Tutameia – Terceiras Histórias (1967)

Obras póstumas

  • Estas Estórias (1969);
  • Ave, Palavra (1970);
  • Magma (1997) – livro de poemas

Além disso, Guimarães Rosa foi um autor reconhecido e premiado pelas mais altas honrarias. Além de ter sido indicado ao Prêmio Nobel de Literatura, o autor também recebeu os seguintes prêmios:

  • 1º Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras (1937);
  • Segundo lugar no Prêmio Humberto de Campos, da Livraria José Olympio (1937);
  • Prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira (1946);
  • Prêmio Machado de Assis, Prêmio Carmen Dolores Barbosa e Prêmio Paula Brito (1956);
  • Prêmio Machado de Assis (1961);
  • Prêmio do Pen Club brasileiro (1963)
  • Recebimento da Medalha da Inconfidência e da condecoração da Ordem de Rio Branco (1966)

Qual é o estilo literário de Guimarães Rosa?

As obras de Guimarães Rosa estão inseridas na terceira geração modernista (também chamada de pós-modernista). Junto com o autor, estão representantes como João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector, entre outros.

Grande parte da importância de Guimarães Rosa para a literatura brasileira está no fato de que o escritor inaugura uma metamorfose no regionalismo, revitalizando a língua portuguesa e incluindo em suas obras realismo mágico, invenções linguísticas, neologismos, elementos existencialistas e até religiosos.

Para a criação das obras, portanto, a linguagem ocupa um espaço essencial, que se torna um recurso altamente expressivo e caracterizador dos personagens, com experimentalismos, linguagem poética, fluxo de consciência, uso de termos arcaicos e fragmentação da narrativa linear, tradicional.

Guimarães Rosa recria a linguagem portuguesa em suas obras, explorando os limites e ferramentas possíveis, ao mesmo tempo em que constrói uma prosa altamente poética que permite o acesso a um mundo mágico.

O cenário rural, pano de fundo das obras de Guimarães Rosa, porém, não posiciona o autor apenas como um autor regionalista, já que suas obras têm caráter universal, pela exploração das dimensões psicológicas e filosóficas do ser humano e aborda temáticas universais como morte, ódio, amor, medo, violência, misticismo.

Nesse cenário, Rosa mergulha na experiência do homem rural, iletrado, que não enxerga o mundo de maneira maniqueísta nem lógico-racional. Há um predomínio de vozes incomuns em suas obras, vozes pouco retratadas, como o idoso, o analfabeto, o desajustado e até o bicho.

O resultado é um texto imerso no realismo mágico e no misticismo, longe das fronteiras racionais, mas muito perto da imaginação e da poesia, do mágico.

Quais são as obras mais famosas de Guimarães Rosa?

Você já conhece as obras mais famosas de Guimarães Rosa? Confira a lista a seguir:

Grande Sertão: Veredas (1956)

“Grande Sertão: Veredas” é a grande obra de Guimarães Rosa, considerada a Magnus Opus do autor. O texto, narrado em primeira pessoa e de maneira não linear, traz o relato de Riobaldo, ex jagunço, em diálogo com um visitante letrado e urbano que pretende conhecer o sertão mineiro.

É Riobaldo que conta a sua história, refazendo suas lembranças em sua própria linguagem. O cenário, claro, é o sertão, mas não o sertão geográfico, que se pode apontar em um mapa. Guimarães Rosa constrói em “Grande Sertão: Veredas” um sertão do tamanho do mundo e do tamanho da vida de Riobaldo.

O livro aborda temáticas como vingança, homossexualidade, amor, a dualidade entre o bem e o mal, as diferenças sociais, paradoxos como a alegria e a tristeza, a liberdade e o medo, os problemas locais e outras temáticas que ocupam a mente e o coração de Riobaldo.

Campo Geral (1956)

“Campo Geral” é uma novela escrita por Guimarães Rosa que tem como personagem principal Miguilim, uma criança que vive no interior de Minas Gerais. O narrador é onisciente e a narração é feita por Miguilim, que, apesar de criança, é visto como um indivíduo complexo e com suas próprias questões pessoas.

É possível perceber, na novela, a linguagem lírica, poética e reinventada de Guimarães Rosa e, apesar de se passar no interior, não se trata de um livro regionalista, já que aborda questões universais como a infância e os dilemas dessa fase da vida.

Primeiras Estórias (1962)

“Primeiras Estórias” é um livro de contos que apresenta diversos acontecimentos passados no sertão. O livro foi adaptado para o cinema por Pedro Bial, com o filme “Outras Estórias”. O filme se baseou em cinco contos do livro: “Famigerado”, “Os irmãos Dagobé”, “Nada e nossa condição”, “Substância e Soroco, sua mãe, sua filha”.

Sagarana (1946)

“Sagarana” é o primeiro livro publicado de Guimarães Rosa e é composto por nove contos. O título do livro é uma junção de “saga”, de origem alemã, e “rana”, de origem tupi. É um neologismo que coloca que os contos, ou narrativas, possuem um tom épico.

Neste livro, além de outras características comuns de Rosa, como regionalismo que não impede o universalismo de seus temas e a experimentação de linguagem, o autor também traz linguagem coloquial para os personagens e o tom heroico que a terceira fase do modernismo apresenta.

Poemas de Guimarães Rosa

Além de novelas, contos e romances, Guimarães Rosa também escreveu poemas, sob o heterônimo de Soares Guiamar. Confira um deles, de nome, “Ou…Ou”, localizado no livro “Ave, palavra”:

“A moça atrás da vidraça

espia o moço passar.

O moço nem viu a moça,

ele é de outro lugar.

O que a moça quer ouvir

o moço sabe contar:

ah, se ele a visse agora,

bem que havia de parar.

Atrás da vidraça, a moça

deixa o peito suspirar.

O moço passou depressa,

ou a vida vai devagar?”

Frases de Guimarães Rosa

Os livros de Guimarães Rosa rendem diversas citações inspiradoras. Confira algumas:

    • O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem
    • O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver – a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem-fim que nem não se pode ver. Mas a gente quer Céu é porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo. Se eu estou falando às flautas, o senhor me corte. Meu modo é este. Nasci para não ter homem igual em meus gostos. O que eu invejo é sua instrução do senhor…
    • Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.
    • Viver é muito perigoso… Porque aprender a viver é que é o viver mesmo… Travessia perigosa, mas é a da vida. Sertão que se alteia e abaixa… O mais difícil não é um ser bom e proceder honesto, dificultoso mesmo, é um saber definido o que quer, e ter o poder de ir até o rabo da palavra.
    • Quando eu morrer, que me enterrem na beira do chapadão, contente com minha terra, cansado de tanta guerra, crescido de coração.”
    • Ah, acho que não queria mesmo nada, de tanto que eu queria só tudo. Uma coisa, a coisa, esta coisa: eu somente queria era – ficar sendo!
    • Viver é um descuido prosseguido. Mas quem é que sabe como? Viver…o senhor já sabe: viver é etcetera…
  • “Deus é paciência. O contrário é o diabo.”
  • “O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando.”
  • “Quem-sabe, a gente criatura ainda tão ruim, tão, que Deus só pode às vezes manobrar com os homens é mandando por intermédio do diá?”

Ficou curioso para descobrir as obras de Guimarães Rosa? Escolha um de sua preferência e divirta-se! Aproveite e leia também sobre:

Texto escrito por: PRASABER
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