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Luís Bernardo Honwana: conheça a vida e obras do escritor Luís Bernardo Honwana: conheça a vida e obras do escritor

Luís Bernardo Honwana: conheça a vida e obras do escritor

Luís Bernardo Honwana é um escritor moçambicano autor de livros como “Nós matamos o cão tinhoso”, presente na lista de livros obrigatórios do vestibular da Fuvest 2024. O autor, além de escritor, também atua como jornalista e envolveu-se em atividades políticas.

Luís Bernardo, já com 80 anos, recebeu durante toda a vida muito reconhecimento por suas obras, que refletem a injustiça social e trazem luz para o talento do escritor e para a realidade africana.

Se você quer aprender mais sobre sua vida e suas principais obras, é fácil! Continue lendo o artigo a seguir e descubra tudo o que precisa saber sobre esse grande escritor.

Quem foi Luís Bernardo Honwana?

Luís Bernardo Honwana nasceu em 12 de novembro de 1942 na cidade de Lourenço Marques (atualmente chamada por Maputo), em Moçambique. Cresceu no interior do país, mas, aos 17 anos mudou-se para a capital, Maputo, para estudar Jornalismo, atividade que exerceu por toda a sua vida. Quando nasceu, o país ainda era colônia de Portugal, e o autor aprendeu, com seus pais, tanto português quanto rongo, língua materna de seu local de nascimento. A educação de Luís Bernardo e de seus sete irmãos sempre foi incentivada pelos pais, que entendiam a importância dos livros e de educar-se.

Seu talento como escritor foi descoberto por dois grandes poetas moçambicanos, José Craveirinha e Rui Knopfli. Confira um poema de José Craveirinha:

Reflexões no dia dos meus anos

Faço anos.

Quantos já não interessa.

Por uma questão de glândulas

infalivelmente na barba e nas têmporas

aos poucos e poucos envelheço.

Faço anos e neste dia

há sempre umas recordações interessantes

ao mesmo tempo que mudamos na aparência

e aos outros parecemos bem conservados

enfim!

Não expirado o prazo da minha ausência

no meu bairro da Munhuana

no preciso dia do meu aniversário

lá com certeza o dia amanheceu

todo assoado de nuvens.

Ah, tudo se transforma!

Eu que faço anos

e o tempo inexorável não perdoamos

aos que não acreditam em augúrios

e apesar das mil coisas tristes

os cabelos brancos embelezam-me as fontes

e as notícias nem sempre são todas más

e em segredo algumas

até me rejuvenescem intimamente.

Faço anos

e o bolor da saudade arroxeia-me as olheiras

e dá-me um ar de homem circunspecto

que lê Camus.

Mas ao mesmo tempo que admiro as viagens espaciais

os antibióticos

e por exemplo a televisão

ainda me embriaga a retina

um quadro de Portinari

o andar cadenciado duma mulher

um bom jogo de futebol

e um autêntico céu azul a milhafres de nada.

Aos 22 anos, estreia com sua grande obra, “Nós matamos o cão tinhoso!”, coleção de contos que recebeu desde a publicação grande atenção da crítica e do público. Em 1970, se muda para Portugal para cursar Direito na Universidade de Lisboa. Atualmente, é casado e pai de dois filhos.

Vida política

Em 1964, tornou-se militante político da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), com o propósito de alcançar a independência do país. Por suas atividades na organização, foi detido, ficando três anos preso. Após conquistada a independência de Moçambique, Luís Bernardo Honwana atuou como presidente da Organização Nacional dos Jornalistas de Moçambique. Também trabalhou como diretor de gabinete do presidente Samora Machel, Secretário de Estado da Cultura de Moçambique, Ministro da Cultura de Moçambique e membro do Conselho Executivo da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).

Mas seu envolvimento com a política não parou por aí! Em 1991, fundou o Fundo Bibliográfico de Língua Portuguesa e em 1994 foi convidado para ser diretor do escritório geral de regionalização da UNESCO e para participar do secretariado da organização. É membro fundador da Organização Nacional dos Jornalistas de Moçambique, da Associação Moçambicana de Fotografia e da Associação dos Escritores Moçambicanos.

Atualmente está envolvido com a BIOFUND (Fundação para conservação da biodiversidade). Seu livro “Nós matamos o cão tinhoso!” chegou a ser banido de Moçambique, mas com a independência do país a obra voltou a circular e tornou-se, em pouco tempo, uma das mais importantes da história do país.

Livros e Contos de Luís Bernardo Honwana

Luís Bernardo Honwana publicou dois livros e um conto: “Nós matamos o cão tinhoso”, “Rosita” e ”A velha casa de madeira e zinco”. Apesar de poucas obras publicadas, seu primeiro livro foi o suficiente para reconhecer o autor como um dos maiores autores de Moçambique e da África.

Sua obra principal foi adaptada para o cinema, teatro, exposições de arte e outros contos e foi considerada pela Feira do Livro de Maputo como uma das 100 obras africanas mais importantes do século XXI.

Por sua atuação como escritor e político recebeu diversos prêmios. Confira:

  • 1º lugar no Concurso Literário Internacional da revista The Classic, África do Sul, 1965.
  • “Prémio José Craveirinha de Literatura 2014”, Associação dos Escritores Moçambicanos, Moçambique.
  • Nós matamos o Cão Tinhoso! – Classificado entre os “100 melhores livros africanos do século XX” (Creative Writing), 2002. Uma iniciativa da “Zimbabwe International Book Fair”, com a colaboração de African Publishers Network (APNET), Pan-African Booksellers Association (PABA), associações de escritores africanos, conselhos para o desenvolvimento do livro e associações de bibliotecas.
  • Nós matamos o Cão Tinhoso! – em 2021, incluído na lista da FUVEST de obras literárias de leitura obrigatória para os exames vestibulares de 2024 a 2026.

Obra mais famosa de Luís Bernardo Honwana

Seu primeiro livro “Nós matamos o cão tinhoso” é considerado hoje um clássico da literatura africana contemporânea e reúne contos que refletem a injustiça social proveniente do colonialismo. A obra teve grande reconhecimento pela crítica e pelo público, mas chegou a ser banida do país durante a colonização de Portugal. Saiba mais sobre o livro:

Nós Matamos o Cão Tinhoso

“Nós matamos o cão tinhoso” foi publicado em 1964. A partir de sua publicação, Luís Bernardo Honwana inaugurou uma nova era da ficção moçambicana, criando um novo paradigma para o texto narrativo do país. Em 1969, o livro foi adaptado para a língua inglesa e ganhou reconhecimento internacional. Hoje já foi publicado em diversas línguas, como francês, alemão, espanhol e sueco. O livro foi reconhecido por sua maturidade estética, apesar da juventude de Luís Bernardo.

A professora Rita Chaves, da USP, explica mais sobre o livro:

“Luís Bernardo Honwana, com pouco mais de 20 anos na época, consegue delinear uma sociedade cruel, dominada pelo código do racismo e da injustiça social. Na elaboração dos enredos, a inviabilidade da vida ali se mostra pela chave do preconceito de várias ordens intervindo fortemente no funcionamento da sociedade. Comportamentos racistas e machistas são os mais evidentes.  Mas podemos observar sempre o peso do poder esterilizando as relações, determinando a covardia de procedimentos hierárquicos, inclusive no espaço muitas vezes visto como ingênuo, como é o universo da infância. Em todos os contos que integram Nós Matamos o Cão Tinhoso, podemos ler que, sob o domínio colonial, não há lugar para a inocência.”

Os contos são curtos, críticos e sensíveis. A primeira edição continha apenas sete contos, mas posteriormente outro conto foi incluído para a edição brasileira, que inclui oito contos. Todos eles retratam como o colonialismo é capaz de perpetuar profundamente na vida de todos os cidadãos, desde a infância até a morte. Em países africanos, a situação ainda é pior, já que a independência é recente e não foi possível vencer as consequências do colonialismo, revelando uma realidade desigual, violenta e opressora.

A abertura do livro já impressiona:

“O Cão Tinhoso tinha uns olhos azuis que não tinham brilho nenhum mas eram enormes e estavam sempre cheios de lágrimas, que lhe escorriam pelo focinho. Metiam medo aqueles olhos, assim tão grandes, a olhar como uma pessoa a pedir qualquer coisa sem querer dizer.”

Os contos são narradas em primeira pessoa, com exceção do conto “Dina”, que possui narrador onisciente. O tempo apresentado é linear e quatro dos contos são narrados pela voz de uma criança. O autor também utiliza a oralidade e palavras tipicamente moçambicanas para marcar a diferença de linguagem entre Moçambique e Portugal.

O autor aprofunda-se nas consequências do colonialismo, como violência contra a mulher, desigualdade, o racismo, a busca pela liberdade e a opressão, temas ainda muito presentes nos países africanos e também no Brasil. É possível encontrar semelhanças com o nosso país em diversos contos do livro, o que reforça ainda mais a obrigatoriedade do livro para o vestibular da Fuvest. Além de ser possível traçar diversos paralelos com a realidade brasileira, também dá destaque à literatura africana e à qualidade da produção de escritores do continente, além das características literárias que diferem do que os brasileiros estão habituados.

O principal conto é narrado através dos olhos de uma criança, que desenvolve um senso de empatia por um cão abandonado, velho e doente. Em determinado momento, outras crianças e um veterinário convencem o personagem principal de matar o cão e inicia-se um grande conflito interno, já que a criança está emocionalmente ligada ao cão.

Agora que você sabe tudo sobre Luís Bernardo Honwana, leia também sobre:

Texto escrito por: Prasaber
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