

Com demanda de medicina, Pravaler capta R$432 mi
A gestora de crédito estudantil Pravaler, que tem entre seus acionistas o Itaú, levantou R$ 432 milhões em Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FDICs) para concessão de novos financiamentos universitários em 2025. Essa é a maior captação feita pela gestora, fundada em 2001. Na rodada anterior, concluída no começo do ano, o montante levantado foi de R$ 285 milhões.
A gestora fez uma captação bem superior às demais para ampliar a oferta de financiamento estudantil a faculdades e cursos premium como, por exemplo, medicina. “Com o aumento da concorrência no mercado de medicina, muitas faculdades começaram a nos procurar para ofertar financiamento aos seus alunos”, disse Haroldo Carvalho, diretor financeiro da Pravaler, gestora que detém 80% do mercado de crédito universitário. Dos calouros de medicina de cursos privados do país, 7% contratam com a Pravaler.
Até então, o financiamento universitário não era comum nessa graduação, porque boa parte dos alunos vem de famílias com condições para arcar com a mensalidade média de R$ 10 mil. Nas escolas atendidas pela gestora, o tíquete médio é de R$ 12 mil. As taxas de desistência e inadimplência são as menores do setor por se tratar de um curso concorrido. Ou seja, as faculdades não dependiam do crédito estudantil para atrair os estudantes e garantir o recebimento das mensalidades. Mas essa dinâmica está mudando diante do cenário de maior concorrência.
“Um caso que mostra o potencial da Pravaler foi a matrícula de 79 alunos em duas faculdades de uma empresa listada em São Paulo e na Bahia, o que representou 100% das vagas não preenchidas pela empresa, ou 53% do total de vagas (a empresa matriculou 47%)”, destaca relatório do Bradesco BBI.
As faculdades estão contratando a Pravaler para conceder financiamentos e também para garantir o caixa. Os alunos pagam para a gestora que, por sua vez, repassa os pagamentos às escolas, assumindo o risco de inadimplência em troca de uma taxa de serviços. Há ainda um outro produto em que a gestora faz antecipação de recebíveis para as instituições de ensino.
O aluno que contrata o financiamento paga 50% do valor da mensalidade durante o curso e quita a outra metade após a formatura, com taxa de juros anual de cerca de 12%.
A Pravaler também ampliou a oferta de financiamentos para cursos de engenharia, direito e outros na área de saúde, cujo valor da mensalidade é maior.
Mesmo num cenário em que o setor de ensino superior enfrenta dificuldades para crescer, com as faculdades tendo que escolher entre dar descontos para matricular mais calouros ou perder novos alunos para manter margem, a Pravaler conseguiu forte demanda de investidores nessa última captação de FDICs.
A procura foi quatro vezes superior ao “bookbuilding” (livro de oferta),o que possibilitou uma contratação com taxa de CDI + 1,4% e prazo de cinco anos. “Essa demanda ocorre porque ainda há muita oportunidade de crescimento, a penetração de financiamento estudantil privado no país é baixa”, disse o executivo.
A gestora tem como meta crescer 30% neste ano. A Pravaler deve encerrar o ano com receita de R$ 500 milhões, sendo que entre 25% e 30% já vem de medicina
Desde 2003, a gestora já concedeu R$ 10 bilhões em financiamento estudantil para 400 mil alunos. O crescimento disparou a partir de 2015, com a crise do Fies, programa de financiamento estudantil do governo federal que reduziu drasticamente de tamanho e nunca mais conseguiu atender de forma escalável. Em 2014, o governo concedeu 732 mil financiamentos estudantis, no ano seguinte reduziu para 287 mil e, desde então, vem caindo sistematicamente. No ano passado, foram apenas 48 mil contratos de Fies foram assinados.
As regras do programa desenquadram a maioria dos alunos interessados e quase todos os anos apenas metade das vagas do Fies é preenchida. O principal gargalo é que para ser elegível ao Fies, o aluno precisa conseguir 450 pontos na prova no Enem e não zerar em redação. Porém, muitos estudantes da baixa renda, cuja maioria estudou em escola pública, não consegue obter essa nota na prova.
O Fies ainda enfrenta um passivo de R$ 112,3 bilhões vindo de alunos que contrataram o financiamento, mas não conseguiram pagar o empréstimo estudantil.
Fonte: Valor Econômico